domingo, 26 de setembro de 2010

MAS O QUE É MESMO FILOSOFIA?



Filosofia não se ensina, ensina-se a filosofar.
Immanuel Kant.


Penso que seria muito pertinente para o trabalho no campo da filosofia, enquanto conteúdo de aprendizagem, iniciarmos pelo “princípio”. Este seria tomado como base suficientemente aceitável, que pudesse trazer aqueles para os quais tal aprendizagem será direcionada, uma preparação básica para a compreensão dos conteúdos daquela. Como dizia Hegel em sua Introdução à História da Filosofia, embora discordemos até certo ponto de tal posicionamento, o “ensino de filosofia deve se iniciar por meio da História da Filosofia”:

Na realidade, porém, tudo o que somos, somo-lo por obra da história; ou, para falar com maior exatidão, do mesmo modo que na história do pensamento o passado é apenas uma parte, assim no presente, o que possuímos de modo permanente está inseparavelmente ligado com o fato da nossa existência histórica. O patrimônio da razão autocosnciente que nos pertence não surgiu sem preparação, nem cresceu só do solo atual, mas é característica de tal patrimônio o ser herança e, mais propriamente, resultado do trabalho de todas as gerações precedentes do gênero humano. .../ Se alguma coisa somos no domínio da ciência e da filosofia, devemo-la à tradição, a qual, através do que é caduco, e por isso mesmo passado, forma, segundo a expressão de Herder, uma corrente sagrada que conserva e transmite tudo quanto o mundo produziu antes de nós (HEGEL, G. W. F. Introdução à História da Filosofia. Coimbra: Armenio Amado, 1980, tradução CARVALHO, Antonio P. CARVALHO, J. de, p. 327-328).

Concordamos com ele na medida em que para se ter uma compreensão “correta” daquela seriam necessários alguns conhecimentos básicos como preparação do terreno para tanto, mas discordamos de que tal terreno deva se iniciar, sobretudo, pela filosofia apenas enquanto história. Sendo assim, aproximamos mais da “idéia kantiana de aprendizagem filosófica” enquanto “processo”, de questionamento, no qual a filosofia não é vista como algo dado e sim como algo questionável, criticável: 

Se a elaboração dos conhecimentos pertencentes ao domínio da razão segue ou não o caminho seguro de uma ciência, isto deixa-se julgar logo a partir do resultado. Quando após muito preparar-se e equipar-se esta elaboração cai em dificuldades tão logo se acerca do seu fim ou se, para alcançá-lo, precisa freqüentemente voltar atrás e tomar um outro caminho; quando se torna igualmente impossível aos diversos colaboradores porem-se de acordo sobre a maneira como o objetivo comum deve ser perseguido: então se pode estar sempre convicto de que um tal estudo acha-se ainda bem longe de ter tomado o caminho seguro de uma ciência, constituindo-se antes um simples tatear; e já é um mérito para a razão descobrir porventura tal caminho, mesmo que se tenha que abandonar como vã muita coisa contida no fim anteriormente proposto sem reflexão (KANT, I. Crítica da Razão Pura. In Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1987, Prefácio à Segunda Edição, Tradução Rohden, V. e Moosbuger, U., p. VII.).

Desta forma, para aqueles aceitam tal desafio, pensar sobre o que seria filosofia, seria pertinente aos corajosos iniciarem sua investigação pela “pergunta-crítica” e clássica da história da filosofia: O que é o ser pensante?. Em sentido mais contemporâneo: “O que é o homem?”. Pois entendo que mais adequado seria antes de investigarmos aquele objeto, seria iniciarmos pela verificação do sujeito que pode conhecê-lo.
JC.

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