domingo, 22 de janeiro de 2012

O fim do conhecimento na escola pública? Indícios para uma reflexão.


Gramsci, filósofo italiano, dizia o seguinte sobre a democratização da educação:
 Deve-se convencer muita gente de que o estudo é também um trabalho, e muito cansativo, com um tirocínio particular próprio, não só intelectual, mas também muscular-nervoso: é um processo de adaptação, é um hábito adquirido com esforço, aborrecimento e até mesmo sofrimento. A participação de massas mais amplas nas escolas traz consigo a tendência a afrouxar a disciplina do estudo, a provocar "facilidades". (...) estas questões podem tornar-se muito ásperas e será preciso resistir a tendência a facilitar o que não pode sê-lo sob pena de ser desnaturado (2010, p.52).
Quando olhamos a educação básica contemporânea no Estado de São Paulo percebemos que aquilo que Gramsci tanto temia se tornou uma realidade. Sob a idéia confusa de que "tudo é educação" abriga um pensamento neurótico que toma indevidamente esse "tudo" como componente de promoção, ou seja, descategorizadamente, tomam-se até atividade recreativa sem reflexão crítica ou histórica como parâmetro para distribuir notas ou médias.
Por exemplo, em tempos não muito remotos participar de uma festa junina, atividade recreativa histórico-cultural de nossa sociedade, era um prazer... Hoje, ela só existe na escola básica à base de barganha: "ganha nota quem participar". Olha que este é apenas um exemplo! Assim, facilitam-se propositalmente o ganho das médias sem qualquer critério ou metodologia levando um aluno ao ano seguinte, com complementação de nota, que mascara sua verdadeira "intelectualidade".
Outro aspecto é a soberba escondida por trás da frase "respeitar as dificuldades de cada aluno" levando equivocadamente a um nivelamento do conhecimento por baixo para facilitar o "aprendizado". Isto é, as dificuldades detectadas que deveriam do ponto de vista de diagnóstico serem sanadas através de mecanismos pedagógicos na verdade levam o conhecimento à simplicidade, à fragmentariedade, à incapacidade. Disto decorre uma defasagem intelectual contemporânea onde o jogo é mascarar o óbvio: o fim do conhecimento na escola pública. Quem perde com isto é o aluno e a aluna que têm remotas possibilidades de acessar a Universidade Pública.