quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Uma pequena reflexão sobre a pré-escola no Brasil.



A Pré-Escola como parte integrante do ensino básico obrigatório se configura segundo a LDB, o que podemos verificar no artigo 21 da Lei 12.013 de 2009, “(...) educação básica, formada pela educação infantil (...)”, como uma fase importante para as primeiras formações do cidadão de quatro a cinco anos. Ela que visa uma preparação para a entrada no ciclo da alfabetização é um trabalho “psico-pedagógico” que envolve tanto o desenvolvimento motor quanto psicológico da criança, como ensaio à entrada no universo das significações, simbologias do “jogo” lingüístico. Deveria ser um momento de liberdade durante o qual a criança vive suas possibilidades naturais de desenvolvimento levando em consideração sua capacidade particular de entrar naquele universo, sem esquecer dos estímulos adequados para tal inclusão.
No Brasil já podemos verificar que este tema tem sido valorizado pela sua representatividade na formação do sujeito. Ele tem, por exemplo, sido objeto de pesquisa pelo Laboratório de Observação e Estudos Descritivos da UNICAMP onde é avaliado o processo pedagógico em tal esfera. Em parceira com pré-escolas da região a instituição procura acompanhar os trabalhos que estão sendo desenvolvidos que envolvem tanto a criança quanto o educador. Podemos também pensar nos trabalhos de escolas de aplicação, como é o caso da Escola de Aplicação na USP que procura ao mesmo tempo oferecer a educação aos filhos de funcionários e alunos conciliados com trabalhos de pesquisa para avaliar a qualidade dos resultados visando suas especificidades.
Por um lado, mais do que um momento de ensino das letras e dos números o projeto deveria obrigatoriamente ser diferenciado do ensino fundamental quando a criança aos seis anos de idade é inserida no efetivo trabalho pedagógico. Ela seria uma “(...) primeira etapa da Educação Básica, sem antecipar a escolarização do ensino fundamental” (GODOI, s.d.).
Assim, o período em questão se configuraria mais como um momento de experiência no qual a criança, respeitados seus limites, deveria experimentar o início do mundo da descoberta e do conhecimento sem o “objetivo da promoção ou retenção”. Com tal prática experimental as crianças pequenas devem atuar como co-autores do trabalho, não só vistos como objetos, mas também como sujeitos em toda atividade pedagógica sendo estimuladas positivamente para criar coisas reais, com atividades manuais, e imaginárias, como falar do que está pensado, exporem seus universos psíquicos, enfim, devem atuar “como um sujeito participativo no jogo social” (idem).
Por outro, é importante mencionar que o trabalho na pré-escola se encontra inserido, conforme nos esclarece a LDB, em uma estrutura educativa que se inicia na creche e vai até o ensino superior. Ou seja, ele é parte integrante de um movimento, de um processo educacional, que deveria pressupor continuidades. Desta forma, suas características singulares, o trabalho não deveria como acontece normalmente ser isolado em si mesmo e sim participar relativamente, em relação, com o nível precedente e com o posterior. Isto garantiria uma “formação continuada” sem que houvesse quebras no processo.
Preocupados em compreender o significado da primeira fase do homem, pesquisadores brasileiros procuram olhar experiências de outrem em países que já há muito tempo pesquisam a atividade escolar infantil. E, como exemplo muito significativo de tal entendimento, é-nos apresentados trabalhos de pesquisadores italianos[1], agora objeto de análise no Brasil, que seria tomar os educadores como pensadores de sua própria prática, o que já acontecem em termos em algumas escolas de aplicação no país. Mais do que pensar sobre o outro, sobre o educando, no que diz respeito à pesquisa educacional seria importante em tal âmbito os próprios educadores à maneira de auto-avaliadores pensarem sobre si mesmos e nas atividades educacionais que têm sido colocadas em prática. O interessante da experiência diz Elisandra Girardelli Dogoi doutoranda na UNICAMP é ao invés de focalizar a criança, sem esquecer é claro de sua imprescindível importância, seria ater-se sobre os educandos e suas atividades não só vistos como objeto da pesquisa, sobretudo, como sujeitos que também se pesquisam, se auto-avaliam.
Assim, a pré-escola surge como fase preparatória imprescindível para o campo do conhecimento, o que há muito tempo tem sido observado pelo ensino privado no Brasil, mas que agora passa a estimular discussões em âmbito público.
JC.



[1] Foi publicado recentemente no Brasil pela UNICAMP um trabalho que fora executado nas pré-escolas da Cidade de Pistóia na Itália intitulado “Avaliando a pré-escola”. Esse trabalho tem sido tomado como referência para se pensar a experiência brasileira em tal fase escolar.

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